Dentista sofre infarto, é confundido com embriagado e morre em cela da Polícia Civil em São José
Família denuncia negligência e cobra Justiça após homem de 60 anos ser preso enquanto sofria um ataque cardíaco.
Família denuncia negligência e cobra Justiça após homem de 60 anos ser preso enquanto sofria um ataque cardíaco. Foto: Arquivo pessoal.
Um dentista de 60 anos morreu em uma cela da Central de Polícia de São José, na Grande Florianópolis, após sofrer um infarto e, segundo familiares, ser erroneamente tratado como embriagado ao volante. Cezar Maurício Ferreira, servidor do Tribunal Regional do Trabalho da 12ª Região (TRT/SC) e ex-primeiro tenente da Marinha do Brasil, teve um mal súbito enquanto dirigia na noite da última sexta-feira (18).
Desorientado, ele colidiu com outro veículo. A sequência de eventos que se seguiu terminou de forma trágica e, de acordo com a família, poderia ter sido evitada.
Segundo nota divulgada pelos representantes legais da família, Cezar sofria de uma condição cardíaca crônica, usava marca-passo e realizava tratamento médico regular. Na noite do ocorrido, ele retornava de uma padaria, onde havia feito um lanche, quando passou mal ao volante e perdeu o controle do carro. A colisão foi leve, mas atraiu a presença da polícia.
Na abordagem, conforme relatado posteriormente à família, Cezar demonstrava sinais claros de um infarto: confusão mental, dificuldade de fala e mal-estar intenso. Ainda assim, foi interpretado pelos agentes como alguém sob efeito de álcool. Mesmo sem realizar exames ou acionar atendimento médico, os policiais o detiveram e o encaminharam em uma viatura para a delegacia, onde deu entrada às 20h49min.
Sem atendimento médico durante toda a noite, o corpo de Cezar foi encontrado já sem vida por volta das 7h40min da manhã de sábado (19). O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) foi chamado apenas nesse momento, e apenas para constatar o óbito.
A família afirma que só foi informada da detenção e da morte muitas horas depois, por terceiros. Como a causa da morte foi classificada como “dependente de exames complementares” e tratada como “morte violenta”, exigindo liberação judicial, os familiares também não puderam cumprir o desejo do dentista de ser cremado.
Cezar era adventista do sétimo dia e, conforme os filhos, não consumia álcool. “A cogitação de que ele pudesse estar sob efeito de bebida alcoólica é um escárnio”, afirmou o advogado da família, em nota divulgada ao Floripa Discover.
Os parentes agora cobram uma apuração rigorosa, o acesso às imagens das câmeras corporais dos policiais envolvidos e a responsabilização pelos atos que, segundo eles, contribuíram diretamente para a morte de um homem que precisava de socorro e foi tratado como criminoso.
“Por que um homem sofrendo um infarto foi levado a uma cela de delegacia, quando seu único destino deveria ser um hospital?”, questiona o texto divulgado.
A Polícia Militar de Santa Catarina foi procurada pela reportagem e enviou nota informando que atendeu uma ocorrência de acidente de trânsito na rua Cândido Amaro Damásio, bairro Bela Vista, em São José, na noite de sexta-feira (18), por volta das 20h35. Segundo a corporação, a colisão resultou apenas em danos materiais.
Durante o atendimento, os policiais constataram que um dos condutores apresentava sinais de embriaguez. O motorista não conseguiu realizar o teste do etilômetro, sendo lavrado auto de constatação e efetuada a prisão em flagrante. O veículo dele também foi recolhido ao pátio conveniado por estar com o licenciamento vencido. O condutor foi conduzido à Delegacia de Polícia, onde foram adotadas as providências legais.
A PMSC declarou que permanece à disposição para prestar esclarecimentos adicionais sobre o caso.



