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O impacto do preço do gás natural nos setores produtivos de Santa Catarina

O preço do gás natural no estado aumentou 300% entre 2019 e 2024, impactando a competitividade da indústria e

O impacto do preço do gás natural nos setores produtivos de Santa Catarina

O setor industrial catarinense enfrenta um enigma: como o estado passou de ter o gás natural mais competitivo do Brasil (2011-2018) para um dos mais caros do país (2019-2024)? Segundo a Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), o preço da commodity aumentou cerca de 300% nos últimos seis anos, muito acima da inflação do período.

Recentemente, o presidente da Fiesc, Mário César de Aguiar, cobrou ações do presidente da SCGÁS, Otmar Müller, para reduzir os preços que vêm penalizando o setor produtivo. A indicação de Müller à frente da concessionária foi apoiada pelo mercado, com a expectativa de que ele implementasse a promessa de campanha do governo estadual de baixar as tarifas. Até agora, essa meta parece distante.

O impacto das altas tarifas não se restringe à indústria. Motoristas de aplicativos, tradicionalmente usuários do Gás Natural Veicular (GNV), estão migrando para a gasolina, etanol e, em alguns casos, para veículos elétricos. Essa mudança reflete-se no consumo total de gás natural no estado. Enquanto Santa Catarina já registrou um consumo diário de 2,2 milhões de m³, em novembro de 2023 o volume caiu para 1,62 milhão de m³, segundo dados da própria SCGÁS. No caso de setores como o cerâmico, a redução no consumo de gás resulta em menor produção, deslocamento da atividade para outras regiões e redução dos estoques, impactando o faturamento das indústrias.

As causas desse aumento de preços estão ligadas a decisões equivocadas na gestão do suprimento. A concessionária apostou em contratos de curto prazo, na esperança de que a abertura de mercado trouxesse novos fornecedores e preços mais competitivos. Na prática, os preços de compra só subiram.

A indignação dos consumidores é agravada por outro fator: mesmo com tarifas elevadas, que desestimulam o consumo em setores chave, a SCGÁS, com aval da Agência Reguladora de Serviços Públicos de Santa Catarina (ARESC), continua ampliando investimentos em mercados residenciais de baixo consumo. Essas iniciativas acabam por pressionar ainda mais as tarifas.

Enquanto isso, os lucros da concessionária crescem de forma expressiva: R$ 81 milhões (2019), R$ 70 milhões (2020), R$ 163 milhões (2021), R$ 169 milhões (2022) e R$ 156 milhões (2023). Para os consumidores, fica a sensação de que os preços elevados sustentam uma política de expansão que ignora as reais necessidades do estado e seus principais setores produtivos. A coluna compartilha dessa visão, considerando que a margem de operação da empresa também cresceu acima da inflação no mesmo período.

Contudo, em posicionamento recente (10/01/2025), a SCGÁS justifica o aumento de preço no argumento de que o mercado de gás natural enfrentou mudanças significativas, influenciado por fatores econômicos (dólar), geopolíticos (guerra na Ucrânia) e ambientais (descarbonização). Cita ainda que a produção nacional avançou, suprindo 85% da demanda, mas desafios como reinjeção de gás em campos maduros e atrasos nos gasodutos do pré-sal limitaram o mercado interno.

About Author

Leonardo Mosimann Estrella

Administrador e jornalista profissional, especialista em marketing, comunicação pública, gestão de crise e gestão de pessoas. Mestre e doutorando em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Socioambiental, com mais de 15 anos de experiência em políticas públicas e concessões. Cursa também Ciências Econômicas e é docente na área de Administração.

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