A crise da mobilidade em Florianópolis: é hora de investir em um novo transporte coletivo
A mobilidade urbana em Florianópolis enfrenta desafios significativos, evidenciados por estudos do Observatório da Mobilidade Urbana da UFSC. A
A mobilidade urbana em Florianópolis enfrenta desafios significativos, evidenciados por estudos do Observatório da Mobilidade Urbana da UFSC. A ausência de integração entre os sistemas de transporte dos municípios da Região Metropolitana resulta em ineficiências que afetam diretamente os usuários. Por exemplo, a não participação de Palhoça no Sistema Integrado de Transporte Público Metropolitano compromete a eficácia do serviço, conforme destacado no relatório “Impactos da Ausência de Palhoça no Sistema Integrado de Transporte Público Metropolitano”. Além disso, a falta de faixas exclusivas para ônibus em vias principais, como a BR-282/Via Expressa, contribui para os congestionamentos e reduz a atratividade do transporte coletivo.
Autores como o saudoso geógrafo Milton Santos criticam o modelo urbano brasileiro que privilegia o transporte individual, resultando em cidades fragmentadas e excludentes. O francês François Ascher, ao discutir a “metropolização”, ressalta a necessidade de sistemas de mobilidade que promovam a coesão social e econômica. Florianópolis, com sua geografia insular e limitações viárias, exemplifica essas questões. A implementação de um metrô de superfície, interligando a ilha ao continente e conectando os principais bairros, poderia reduzir a dependência do veículo individual e oferecer uma alternativa eficiente e sustentável.
A gratuidade do transporte público deve ser considerada uma política social possível. Cidades como Tallinn, na Estônia, e Dunkerque, na França, já implementaram sistemas de transporte gratuito com sucesso, demonstrando que essa estratégia pode ser viável e transformadora. Florianópolis, com sua densidade demográfica e características territoriais únicas, poderia liderar o debate sobre mobilidade sustentável no Brasil, mas isso exige coragem política e visão estratégica.
O relatório do projeto Neotrans II, disponível no Observatório da Mobilidade Urbana da UFSC, destaca a deficiente integração entre os sistemas de transporte público de Florianópolis, que prejudica a mobilidade dos cidadãos. A falta de conectividade entre os modais e a ausência de uma infraestrutura unificada resultam em deslocamentos ineficientes, aumentando o tempo de viagem e diminuindo a atratividade do transporte coletivo. Esse cenário reflete a necessidade urgente de um planejamento que integre melhor as diferentes opções de transporte, criando soluções que favoreçam a fluidez e a acessibilidade para toda a população.
Já o relatório “Projeto Operacional para Região Metropolitana de Florianópolis” sugere melhorias essenciais para o transporte público, incluindo a criação de corredores de BRT nas rodovias BR-101 e BR-282. A proposta enfatiza a integração entre as diversas áreas da região metropolitana, como Palhoça e São José, com o objetivo de melhorar a cobertura e a eficiência do sistema. Além disso, destaca a necessidade de ampliar a oferta de transporte público nos trajetos mais demandados, como a região sul de São José, onde a atual oferta é insuficiente, comprometendo a atratividade do transporte coletivo.
Outro aspecto crucial para o futuro da mobilidade em Florianópolis é a transição para a mobilidade elétrica, alinhando-se às metas climáticas globais. Substituir os veículos movidos a diesel e gasolina por ônibus elétricos no transporte público, assim como adotar um metrô de superfície elétrico, não só reduziria significativamente as emissões de gases poluentes, mas também contribuiria para a diminuição da pegada de carbono da cidade. Essa transição ajudaria Florianópolis a se destacar como uma cidade comprometida com o meio ambiente, além de melhorar a qualidade do ar e a saúde pública da população.
A crise da mobilidade em Florianópolis não será resolvida com medidas paliativas ou insistindo no modelo individual. É preciso encarar o desafio com investimentos robustos no transporte coletivo, aliando novas infraestruturas a políticas inclusivas. Como bem afirmava Milton Santos, a cidade deve ser um espaço de cidadania, onde a mobilidade não seja um privilégio, mas um direito acessível a todos. O futuro da capital catarinense depende de uma mudança de rota, com foco na sustentabilidade, na inclusão e na eficiência.