Casais russos migram para Florianópolis em busca de segurança e cidadania brasileira
A presença de casais russos com crianças pequenas tem se tornado cada vez mais visível em Florianópolis, especialmente nos
A presença de casais russos com crianças pequenas tem se tornado cada vez mais visível em Florianópolis, especialmente nos bairros Santa Mônica, Itacorubi, Ingleses e Campeche, entre outros. Esses migrantes são frequentemente encontrados em parques públicos, cafeterias e espaços gastronômicos da cidade, sempre acompanhados de suas famílias. A principal motivação, segundo relatos obtidos pela reportagem, é escapar dos impactos da guerra entre Rússia e Ucrânia, que agravou a situação social no país de origem.
Florianópolis se destaca como destino por sua combinação de belezas naturais, clima ameno e porte médio, além de oferecer atendimento hospitalar de qualidade e opções de parto humanizado, algo raro no modelo de saúde russo. Outro fator decisivo é a possibilidade de obtenção da cidadania brasileira para os filhos, garantindo maior mobilidade internacional às famílias.
Além da capital catarinense, cidades como Rio de Janeiro e Santos também têm atraído esses casais. Em 2023, Florianópolis registrou o nascimento de 38 bebês de casais russos, consolidando-se como o principal destino brasileiro para o chamado “turismo de parto”. Segundo a Polícia Federal, o processo de obtenção da nacionalidade brasileira é facilitado por uma legislação migratória acolhedora, tornando o Brasil um destino preferencial.
Os russos que chegam à capital catarinense geralmente continuam trabalhando remotamente para empresas do país de origem, além de gerarem renda por meio de investimentos financeiros e atividades relacionadas a serviços de internet. Os entrevistados pela reportagem demonstraram grande habilidade no aprendizado do português, muitas vezes superando o domínio da língua inglesa.
Parte da comunidade russa ativa na cidade organiza eventos, como encontros gastronômicos. Recentemente, mais de 80 russos participaram de um jantar comandado por um chef russo e seu companheiro brasileiro, proprietários de um restaurante especializado em culinária do Leste Europeu. No Facebook, uma comunidade russa de Florianópolis contava com quase 200 membros em 2024.
Turismo de parto e apoio institucional
Outro atrativo de Florianópolis é o acesso ao Sistema Único de Saúde (SUS), onde mulheres russas têm realizado partos no Hospital Universitário (HU). Páginas na internet, como o site “Brazil Mama”, que oferece serviços para migrantes, promovem as vantagens de viver na Ilha de Santa Catarina, destacando a possibilidade de garantir o passaporte brasileiro para os recém-nascidos, que permite acesso sem visto a mais de 150 países.
A migração russa para Florianópolis intensificou-se após o início da guerra. Além de terem filhos no Brasil, muitas famílias aproveitam a estadia para conhecer outras cidades brasileiras, nem sempre fixando residência na capital catarinense. Essa mobilidade lhes permite explorar novas localidades no país.
Dados sobre migração no Brasil
Entre 2010 e 2024, o Brasil recebeu aproximadamente 2,3 milhões de migrantes, segundo o Ministério da Justiça e Segurança Pública. Desses, 146 mil foram reconhecidos como refugiados. Entre 2022 e 2023, o fluxo migratório russo para o Brasil ultrapassou 70 mil pessoas, movimentando R$ 1,8 bilhão, principalmente no setor imobiliário.
Historicamente, Santa Catarina já era um destino importante para migrantes russos. Na transição do século XIX para o XX, o estado recebeu a maior parte dos mais de 100 mil cidadãos do Império Russo que migraram para o Brasil. Hoje, estima-se que 1,8 milhão de descendentes de imigrantes russos vivam no país, com destaque para São Paulo, onde a comunidade russo-brasileira está concentrada na Zona Leste.
Em 2023, de acordo com o Observatório de Migrações Internacionais do governo brasileiro, quase 60 mil pessoas solicitaram reconhecimento da condição de refugiado no Brasil. Os russos, no entanto, não constam entre os 20 principais países de origem desses pedidos. No mesmo ano, quanto à emissão de vistos, a China (44,7 mil) e a Índia (12 mil) lideraram o ranking.
Apesar do aumento da presença russa em Florianópolis, a Prefeitura Municipal informou que não possui registros específicos sobre esse fluxo migratório.